Setembro Amarelo: fale sobre seus sentimentos!

Setembro Amarelo: fale sobre seus sentimentos!

Em setembro, uma causa muito importante é abraçada no Brasil: a prevenção ao suicídio, simbolizado pela cor amarela.

Esta cor foi escolhida em homenagem ao Mike Emme, um jovem de 17 anos apaixonado por seu Mustang amarelo que tirou a própria vida em 1994. Mike possuía diversos problemas psicológicos que ninguém notou e ele não suportou. Assim, no dia do seu velório foi entregue uma cesta com fitas e cartões amarelos com a mensagem “Se você precisar, peça ajuda”.

Essa iniciativa foi o grande passo para que isso se tornasse algo maior e as mensagens chegassem em quem realmente precisavam ouvir aquilo.

Por muito tempo esse tema foi tratado como tabu, e ainda é em algumas esferas sociais. Por isso é tão importante que este assunto seja comentado em todos os canais possíveis. 

Foi apenas em 2000 que a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou uma cartilha que orienta os profissionais de saúde a tratarem o tema com seus pacientes e a comunidade. 


E, como valorizar a vida está em nosso DNA, preparamos cinco perguntas que a nossa amiga e psicóloga Amanda Tivo respondeu. Ela alerta que “se você já teve algum dos sintomas, ou conhece alguém no grupo de risco, procure a ajuda de um profissional psicólogo, psiquiatra ou o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) da sua cidade”. Outro canal nacional de atendimento gratuito é do Centro de Valorização da Vida (CVV), por meio do site ou do número de telefone 188. 

Cuide. Acolha. Converse. 

E, principalmente, peça ajuda!

 

Amanda, você acredita que conversar sobre o assunto contribui para a redução do número de suicídios?

Com certeza! Uma das principais vertentes e posicionamentos no trabalho de prevenção ao suicídio é o “falar sobre”. 

Com o cuidado necessário na divulgação, o tema atinge cada vez mais pessoas e promove a identificação, tanto de si quanto de outros, levando o indivíduo a procurar os profissionais e instituições necessários (como psicólogos e serviços públicos) bem como tornar a família e a comunidade potenciais agentes de atuação conjunta na prevenção do suicídio. 


A partir da divulgação de sintomas, grupos de risco e alguns outros fatores associados a tentativa e ao suicídio de fato, profissionais e a comunidade tornam-se agentes efetivos na prevenção.

 

Na família, na escola, no trabalho, como o tema pode ser abordado? O que fazer e o que não fazer para ajudar?

Precisamos abordar o tema com responsabilidade, afeto e acolhimento. Caso haja a identificação de algum indivíduo em risco, encaminhar a profissionais especializados e alertar possíveis redes de apoio (família, amigos). 

Sempre leve a situação a sério, tome uma atitude, acione ajuda, demonstre e esteja ali por ela. 

Reações como pânico, choque, descaso, exposição inadequada e “deixar a situação passar” podem elevar o risco de suicídio no contexto citado.


Segundo a cartilha da OMS (2000), a maioria dos suicidas comunica pensamentos e intenções suicidas. Elas nunca podem ser ignoradas ou deixadas de lado. Interpretações como
“Isto é para chamar a atenção”, “Não é sério”, podem ser perigosas e levar a uma não formação de rede de proteção. O desafio chave de tal prevenção consiste em identificar as pessoas que estão em risco e que a ele são vulneráveis; entender as circunstâncias que influenciam o seu comportamento autodestrutivo; e estruturar intervenções eficazes.

 


Quais são os sintomas e grupos de risco para esse comportamento?

São considerados grupos de risco jovens (com idade entre 15 e 30 anos), idosos, pertencer a um grupo de minoria (negros, LGBTQ+, índios), transtorno mental diagnosticável, doenças crônicas, histórico na família e afins.


Entre os sintomas mais comuns podemos citar
tristeza, depressão, solidão, desamparo, autodesvalorização, mas também pode ser desencadeado por discussões, separações, perdas, mudanças estressantes, problemas financeiros, conflitos no trabalho, entre outros.


Segundo a OMS, alguns comportamentos podem ser alerta para uma possível tentativa: 

 

  • Comportamento retraído, inabilidade para se relacionar com a família e amigos; 
  • Doença psiquiátrica; 
  • Alcoolismo; 
  • Ansiedade ou pânico; 
  • Mudança na personalidade, irritabilidade, pessimismo, depressão ou apatia; 
  • Mudança no hábito alimentar e de sono; 
  • Tentativa de suicídio anterior; 
  • Odiar-se, sentimento de culpa, de se sentir sem valor ou com vergonha; 
  • Uma perda recente importante – morte, divórcio, separação etc; 
  • História familiar de suicídio;
  • Desejo súbito de concluir os afazeres pessoais, organizar documentos, escrever um testamento etc;
  • Sentimentos de solidão, impotência, desesperança;
  • Cartas de despedida;
  • Doença física;
  • Menção repetida de morte ou suicídio.


A pessoa pode detectar em si mesma os sintomas? E, como é possível a família auxiliar a identificar os sintomas?

Se você se identificou ou identificou alguém com os sintomas, enquanto pertencente dos grupos de risco ou em alguma situação que pode desencadear a tentativa, fique em alerta e peça ajuda. Toda vida é válida!

Família, amigos e pessoas do convívio frequente têm papel fundamental, pois são eles que vão criar uma verdadeira rede de proteção. Segundo a cartilha da OMS (2000), a abordagem deve ser feita pacientemente, acolhedora e sem julgamentos. 

Ao suspeitar de que você ou alguém próximo pode estar dando sinais de depressão, ansiedade ou qualquer outro que possa levar ao suicídio, acolha, converse e procure um profissional da área. Apesar das suspeitas, é sempre um profissional que precisa dar o veredito final e guiar a pessoa para a recuperação. 


Quais causas são as mais comuns que podem ser citadas?

Não há causas padronizadas para as tentativas e/ou suicídio. Não se sabe o porquê determinadas pessoas decidem cometer o suicídio quando outras, em situações semelhantes, não possuem a mesma decisão. O que pode-se afirmar é que o suicídio é um evento multifatorial e complexo, que possui fatores biológicos, genéticos, psicológicos, sociais, culturais e ambientais. É, principalmente, uma questão de saúde pública, mas que ao atingir toda a sociedade, convida-a a questionar suas implicações. 


Estudos tanto em países desenvolvidos quanto em desenvolvimento revelam dois importantes fatores relacionados ao suicídio. Primeiro, a maioria das pessoas que cometeu suicídio tem um transtorno mental diagnosticável. Segundo, suicídio e comportamento suicida são mais frequentes em pacientes psiquiátricos. Esses são os grupos diagnósticos, em ordem decrescente de risco são:

  • Depressão (todas as formas); 
  • Transtorno de personalidade (anti-social e borderline com traços de impulsividade, agressividade e frequentes alterações do humor); 
  • Alcoolismo (e/ou abuso de substância em adolescentes); 
  • Esquizofrenia; 
  • Transtorno mental orgânico.



Amanda Tivo
CRP 08/24915
Psicóloga e Gestalt Terapeuta Infanto-Juvenil
Maringá (PR)

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